quinta-feira, 11 de novembro de 2021

 

Começa com a alfabetização: "Eu não vou conseguir alfabetizar meu filho!"

Aí, de repente, sem muito sofrimento, a criança começa a juntar BO com LA e a gente respira aliviada.

Depois vem o medo do desconhecido, a sombra da incapacidade pela educação pra lá de precária que recebemos, mas, de repente, a gente começa a compreender a gramática, começa a descobrir um mundo novo que estava escondido de nós pelo analfabetismo, e a "herança" vai sendo transmitida à medida que as duas gerações se salvam.


Há uma força motriz que impulsiona tudo isso, que nos motiva a buscar ser quem sequer imaginávamos, pois nosso horizonte era limitado àquilo que nos foi inoculado há algumas décadas.


Eu sempre fui um número qualquer na sala de aula, transitava ali entre o 45 e o 50. Lembro que o "Wandemberg" sempre vinha depois de mim.


Eu trago pouquíssimas lembranças da escola, pouquíssimas MESMO. E falo disso tanto pelo lado positivo como pelo lado negativo. Minha experiência, ali, foi completamente imparcial para a construção de quem eu sou hoje. Se formos analisar pelos conteúdos e pela fé, então, eu diria que fui lesada e que isto me custa caro até hoje. 


Eu estudei 13 anos em uma escola de padres e não devo ABSOLUTAMENTE nada de minha fé a isto. A única coisa realmente católica que trago desta escola é a minha Primeira Eucaristia. De resto, TUDO que aprendi foi por minha própria iniciativa depois de muito apanhar da vida. Se hoje sou quem eu sou, é por pura misericórdia divina. Não gosto nem de imaginar onde poderia estar pelas escolhas que fiz. 


Eu sei o que é ser apenas um número na chamada, eu sei o que é ter que se encaixar em um padrão seriado, o que é ser avaliada pela capacidade de reter por um dia determinado conteúdo; sei, da mesma forma, o que é ser descartada pela incapacidade de reter estes mesmos conteúdos. Eu sei como meu Gabriel se sentiria em uma escola, sei o quanto isso poderia lhe custar, sei exatamente onde e como ele estaria pelas avaliações de uma psicopedagoga qualquer completamente  impregnada de psicologia experimental.

Eu escolhi não permitir que meu filho seja apenas um número entre o 14 e o 20 nas listas de chamada anuais, eu escolhi não permitir que ele seja segregado por conta de seu temperamento facilmente confundido com um distúrbio fictício que justifica o fracasso das escolas em atender determinadas crianças, eu escolhi, sobretudo, preservar a sua consciência, alicerçar sua fé e chamá-lo pelo nome. 

Waleska Montenegro.

23/05/2021



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